quinta-feira, 14 de maio de 2009

TEM PÃO VELHO?







Uma ilustração nos diz que em um fim de tarde, molhando o jardim, uma senhora foi abordada por um garoto de pouco mais de 9 anos, dizendo: “Tem pão velho?”. Ela olhou contristada com aquela situação e perguntou: “Onde você mora?”, e o menino respondeu: “Depois do zoológico”. “Bem longe hein...”, disse a mulher. “É, mas eu tenho que pedir as coisas para comer”. “Você está na escola?”, continuou a senhora. “Não. Minha mãe não pode comprar material”. “E seu pai, ele mora com você?”; “Ele sumiu”.
Assim, aos poucos, a conversa foi fluindo até que a senhora lembrou-se do pedido do menino e disse: “Ah, vou buscar o pão. Serve pão novo?”. Então o menino disse: “Não precisa não, dona”. A resposta do menino surpreendeu-a ainda mais quando o garoto completou: “A senhora conversou comigo; já tá bom”.
Certa feita, Jesus, cansado, sentou-se junto à fonte de Sicar (Jo 4.5). Ele comunicou-se com alguém que não era digno de atenção (Jo 4.7). Esse ato causou estranheza (Jo 4.9). A questão inicial era a busca incessante por água (o pão velho da ilustração). No seu dia a dia ela não esperava mais do que desprezo. Ao longo da conversa, que já era por si só um escândalo, porque os judeus não se comunicavam com os samaritanos, (Jo 4.9) a simples questão da água tornou-se tema de eternidade. Tudo isso porque Jesus gastou, com uma só pessoa, o tempo que poderia ser de seu descanso, mas preferiu uma abordagem de amor, mesmo tendo a opção de calar-se na chegada daquela mulher e esperar os discípulos. Foi então que Ele disse a ela: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. Nesse instante todo esforço de Jesus faz sentido. Cristo levou aquela mulher a aceita-Lo como o Messias e tornar-se uma testemunha, que levou muitos ao conhecimento de Jesus (Jo 4.28-31). Poderíamos adaptar a fala da mulher Samaritana à nossa ilustração com as seguintes palavras: “Ele falou comigo, me deu atenção e trouxe-me mais do que a água que todo dia precisava buscar (o pão velho), mas me deu água viva que agora jorra para a eternidade”.
A ilustração vai além do pedir e do dar coisas. O pão velho do menino era na verdade um argumento, que além de apresentar necessidade física, era um clamor por atenção. Com aquele diálogo com a senhora, o garoto passou a existir e isso lhe preencheu as necessidades mais íntimas de solidão e indiferença. Como igreja, estamos cercados de irmãos em Cristo e visitantes e congregados, que através de um olhar, um pedido de oração, um choro, um momento de isolamento, estão pedindo “pão velho”. É como se pedissem o mínimo para não incomodar, mas no fundo querem do nosso tempo, conversar sobre si, ser olhado nos olhos, ser ouvido. Da parte daquele que recebe o pedido, não é suficiente dizer boa noite, seja bem-vindo. As máquinas de estacionamento dos shoppings e hipermercados fazem isso melhor e incansavelmente. Poderíamos colocar algumas, à entrada e à saída do templo, que não resolveria a questão do amor entre nós, da segunda milha. Não basta sorrir à distância, é preciso gastar tempo, sacrificar-se, sair da zona de conforto.
Foi isso que Jesus fez, é isso que devemos fazer como igreja. Ainda ontem saímos em mutirão para oferecer mais do que “pão velho”, saímos para oferecer nosso tempo, dispor nossos dons, ouvir, olhar nos olhos, amar e transmitir Jesus. Essa é a ação da igreja viva que não se contenta em dar apenas o necessário. Cada esforço missionário feito no mutirão renderá gratidão e frutos eternos. Enquanto igreja local ao nosso lado alguém pode estar pedindo “pão velho” para você, e, acredite, não se trata apenas de ser incomodado: Deus está nos dando a chance de fazer algo mais, como fez aquela senhora com o menino, e , excelentemente como fez Jesus com a mulher Samaritana: levar a vida eterna. Olhemos para além de nossas necessidades e agendas e ouçamos o que nos diz Gálatas 6.10 “Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé”, e Tiago 4.17 “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando”. Dessa forma quando alguém nos pedir ajuda faremos mais do que o que não conhece a Deus, amaremos e nos sacrificaremos para falar de Jesus.
Pr. Artur Moraes da Costa